Esse texto me representa e MUITO! Confira a crônica da “diva”
Martha Medeiros – separada especialmente para pensar e refletir. (imagem: um belo dia em PETAR). Bjin!
Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito
meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas
pagas. Feliz porque alguém o elogiou.
Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns
meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco
será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.
Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser
feliz por muito.
Feliz por nada, nada mesmo?
Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa
tal de felicidade inferniza.
“Faça isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos
chegam lá pelo mesmo caminho?
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a
alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que
importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros.
Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”,
também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma.
Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar
algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo
próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é,
são os efeitos colaterais de se estar vivo.
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se
cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem
falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não
terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos
mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à
sociedade e ao mesmo tempo ser livre.
Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora
ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter
que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato
favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se
autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de
opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso.
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