Eunice Tomé
Olá!!! Parabéns às mulheres e também aos homens que valorizam e tratam bem suas companheiras!!
Dando continuidade à Semana Comemorativa do Dia Internacional da Mulher, segue um texto da querida jornalista e escritora, Eunice Tomé. Seus escritos reverenciam as mulheres santistas, que se destacam ou entraram de alguma forma para história não só da cidade de Santos como também do nosso país. Algumas santistas de origem, outras santistas de coração. Enfim, uma homenagem linda às mulheres.
Eunice é espetacular. Inteligente, culta , bonita e esportista. Participou há pouco tempo do Circuito Vênus 10 km, corrida exclusiva de mulheres.
Quero agradecer esta grande escritora, por sua generosidade ao deixar publicar seus escritos neste humilde blog. #Eunicesousuafã
Ká
Mulheres Santistas
Quando surgiu a intenção de rememorar a trajetória e o trabalho de algumas mulheres de Santos, achei que seria uma tarefa fácil e que em pouco tempo conseguiria reunir seus nomes para uma homenagem neste Dia Internacional da Mulher.
Grande engano. Esse erro veio-me pegar de surpresa, pois ao mesmo tempo crescia a responsabilidade de pesquisar e não deixar importantes referências de lado como também uma sensação de ufanismo tomou conta e ficou claro que meu orgulho de ser santista se justificava mais ainda.
Essas bravas, lutadoras e pioneiras começam a mostrar o seu valor por nossas plagas e despontar no meio masculino perto do final do século XIX, no movimento abolicionista, por volta de 1870.
Na verdade, mulheres sempre fizeram, trabalharam, lutaram, mas eram invisíveis, ou melhor, tornavam-nas dessa maneira, dado que pela cultura machista, seus atributos eram apenas para a formação da família e, quando muito, na educação formal.
Mas elas não se deixaram abater e, apesar do grande mérito da criação dos filhos e dos cuidados com a casa e seus maridos, foram descobrindo que podiam fazer mais pela sociedade em que viviam e, cada vez mais, com suas aptidões, começam a obter espaços para estudar e se profissionalizar. A fragilidade começa a ser quebrada. O batom, o salto alto e as calças compridas se aliam à seriedade de suas propostas e surge a confirmação de que era possível conciliar tarefas em pé de igualdade com os homens.
Nem sempre santistas de nascimento, mas de coração. O importante foram as marcas e legados que deixaram para as gerações. E, nesse vai e vem de investigações, nas várias épocas e atividades humanas, seus rostos, seus discursos, suas determinações foram ficando presentes no meu universo. Caminhavam comigo pelas calçadas do velho centro histórico, me mostravam que era preciso abrigar crianças e doentes com dedicação integral, recitavam poesias nos meus ouvidos, gritavam propostas e palavras de ordem nas políticas públicas.
Meu cotidiano se mesclava com Telma de Souza, Gemma Rabello, Olga Coury, Anália Franco, Afonsina Proost de Souza, Maria Máximo, Guilhermina Aralhe Bicudo, Marcolina da Conceição, Yedda de Burgos Martins de Azevedo, Edith Pires Gonçalves Dias, Patrícia Galvão. Esses ecos embaralhavam-se, mas iam formando a história santista e trazendo o colorido, a alegria e o perfume doce tão próprio das presenças femininas no dia a dia da cidade.
Foram dias a fio nesses questionamentos e outras vozes iam surgindo - nas salas de aulas, nas quadras de esportes, nos palcos, nas empresas, na vida social e política. Tudo ia ficando mais confuso e informações iam surgindo sem parar e trazendo à tona outras personalidades. Figuras bem compostas, educadas, cultas, outras polêmicas, irreverentes. Isso não importava, o que me intrigava é como puderam fazer tanto em épocas de tantos preconceitos, onde nem sempre o desenvolvimento cognitivo era admitido, mas deixado à sombra.
E os diálogos continuavam entre Renata Câmara Agondi, Andrea Berti, Danielle Zangrando, Zulmira Campos, Rosinha Viegas, Eunice Caldas, Zulmira Lambert, Brites de Azevedo Marques, Valentina Leonel Vieira, Marina de Magalhães Santos Silva, Miúda Dias Marcelino.
Como deixar eclodir todas as energias contidas e guardadas nos anais dos registros históricos era a questão. A sensibilidade e a inspiração de algumas vieram trazer alguma nuvem azul nesse céu de constelações e apareceram Lydia Federici, Márcia Mendes, Adelci Paulino, Aura Botto de Barros, Maria José Aranha de Rezende, Bete Mendes, Alcione Mazzeo.
E tudo parecia clarear e dar um bom entendimento nesse universo de saias, quando ainda vieram diretoras, conselheiras e acadêmicas do Liceu Feminino Santista, Movimento de Arregimentação Feminina, dos Clubes Soroptimistas, Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, da Casa de Cultura da Mulher Negra. Nesse diapasão, Santos parecia ser Mulher, tantos brilhos e falas ao mesmo tempo.
Aos poucos os rompantes foram serenando e um canto de ninar tomou conta do cenário, mostrando a força da mãe reprodutora e produtora de bens e benefícios para todos os seus filhos amados, em total equilíbrio.
E, a partir daí, passei a entender meu orgulho. Vem desses baluartes citados e tantos outros que por aqui viveram e que ainda vivem em nosso meio. Só lamentamos ser impossível lhes dar citação individual, devido à imensidão de personagens femininas na nossa história. Parabéns a todas as mulheres santistas que levantaram bandeiras e seguiram em frente.
Eunice Tomé – Jornalista e escritora
