Longe da Ressurreição - Eunice Tomé

LONGE DA RESSURREIÇÃO

Como num transe e na parada do tempo. Uma revisão rápida do que é a vida e o suspiro final. Imagens pululam no globo ocular e a mente acelera em quadros sincromáticos, às vezes em preto e branco. Ou em cinza no vazio.

Acontecimentos antagônicos, mais para o lado surreal e triste do que para o lado da melhor crença. O ano que começa agora em Saturno, forte e determinado, nos avisa que a cota de tragédias deverá ser vencida com muita determinação e seriedade.

Onde estão os homens que carregam nos ombros o peso do trabalho honesto e competente? Em nossa frente desfilam com fantasias os palhaços falsos, mas que nos fazem chorar de vergonha. Tragédias anunciadas, com mais de duas centenas de mortos jovens, braço decepado de um trabalhador braçal, a terra rola ribanceira abaixo, levando casas, pessoas e a cegueira de políticos por longos anos de faz de conta.

Em meio a tudo isso, a milenar Igreja Católica fica acéfala por uns dias, a partir da renúncia do Papa que, pelo jeito, cansado estava da política interna da instituição que representa e pelo mau uso dos atributos de alguns seguidores de Cristo. Eleito o novo Papa, o Francisco, uma fumacinha de esperança reina não só em Roma, mas em toda a humanidade.

Pobre Francisco! Representante dos pobres e para quem a Igreja foi criada. A Semana Santa se aproxima e os dogmas do cristianismo ficam à flor da pele e prontos para serem colocados em prática até o momento do renascimento, que se configura na Páscoa. Doces ovos, belas mensagens de vulgas humildades, abraços de simpatia e alegria.

Passado o ápice, comidos os chocolates, alguns com indigestão, vai sendo diluído na corrente sanguínea o pouco de luz que se tentou petrificar por dias, horas, minutos. E voltamos ao baile dos mascarados, sem sairmos do sábado de aleluia.

Eunice Tomé – Jornalista e Escritora

Março/2013

Colaboradora do Expresso Elas