Chorei como se fosse da família,
chorei o choro reservado apenas àqueles muito próximos , chorei de dar vexame,
deixando a todos comovidos com a minha dor. Mal sabiam eles que minha tristeza
por aquela amiga de minha mãe era bem menor do que a tristeza por mim mesma. Eu
chorava por algo que havia morrido em mim., chorava um pedaço da minha vida que
havia deixado de existir , chorava uma perda que nada tinha a ver com aquela
situação. O velório foi apenas um álibi providencial.
Desde então, Comecei a ficar mais
atenta às verdadeiras razões dos meus choros, que, aliás, costumam ser raros.
Já aconteceu de eu quase chorar por ter tropeçado na rua, por uma coisa à-toa.
É que, dependendo da dor que você traz dentro, dá mesmo vontade de aproveitar a
ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma
fratura exposta.
Qualquer coisa pode servir de
motivo. Chorar porque fomos multados, porque a empregada não veio, porque o
zíper arrebentou bem na hora de sairmos pra festa. Que festa, cara-pálida? Por
dentro, estamos em pleno velório de nós mesmos, chorando nossa miséria
existencial, isso sim.
Não pretendo soar melodramática,
mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos
sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muita
coisa deu certo, e outras não. Resolve pesar na balança o que foi privilegiado
e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou. Normal,
normalíssimo. São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais
sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo. Então a gente se
pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida? Vá que tudo isso passe pela
sua cabeça enquanto você está trabalhando no computador. De repente, a conexão
cai, e em vez de desabafar com um simples palavrão, você faz o quê? Cai no
berreiro. Evidente.
Eu sorrio muito mais do que
choro, razões não me faltam para ser alegre, mas chorar faz bem, dizem. Eu não
gosto. Meu rosto fica inchado e o alívio prometido não vem. Em público, então,
sinto a maior vergonha, é como se estivesse sendo pega em flagrante delito. O
delito de estar emocionada. Mas emocionar-se não é uma felicidade? Neste
admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de
chorar, mas trata-se apenas da nossa humanidade se manifestando: a conexão do
computador, às vezes, cai; por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes,
se dá.
Sendo assim, sou obrigada a
reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi. É sempre a dor do crescimento.
Chorar é sempre bom!Kátia!
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Abraços!!E um ótimo feriado!